domingo, 3 de janeiro de 2010

O Lutador



Disseram-lhe que só a vida poderia lhe vencer. Mas quando seus olhos demoram a buscar o foco em um ponto fixo, ele pensa que erraram. A dor lhe cobre como espinhos que ele tenta curar com doses de aspirina. Cartelas que acumulam-se no lixo, dores que voltam a sua porta, sem dó.

Desperta fazendo exercícios matinais, mas o corpo não é o mesmo. É como uma tortura sentir os músculos se deslocando. Um penitente que carrega carga demais. Toma banho, prepara café, e sentando em sua poltrona, espera algo enquanto liga a televisão.

Abre a janela de casa observando o movimento, quase que remoto, de sua rua. Revê as mesmas revistas quando para no banheiro, agora só admira as figuras, pelo simples gesto de fazer mais alguma outra atividade que distraia sua cabeça, tire a atenção momentânea de suas dores.

A tarde, junta as mãos nos olhos, cansado. Velho. Reflete que o mundo não é como antes. Lembra-se da noite passada com imprecisão por causa dos remédios. Não se lembra quando deitou e pode dormir sem estar cansado.

Todos os dias ele permanece atento tentando se lembrar. Qual foi a hora do gancho, a hora do erro, o desfecho final, a contagem regressiva. Teria de haver um momento, mesmo que não lembrasse. Um momento escondido em suas entranhas que lhe significaria tudo e revelaria seu vazio.

Não se sabe a que hora da vida lutou e perdeu, quando seu último golpe foi o primeiro passo de seu azar.

Bauru, Domingo, 3 de Janeiro de 2010.

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