quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Doces e Amargos



Haviam versos ao contrário. Mudaram a ordem de minhas palavras e fizeram de mim o que não sou. Aqueles olhos agudos de vigia disseram-me que seria minha salvação. Meu evangélico redentor. Escrevi sem parar com a cabeça baixa, com medo de seu sorriso de chumbo.

Mudaram os contatos, os brancos e os pretos, os lugares comuns. As putas liam o evangelho, e os padres blasfemavam na porta da igreja. Meu desejo era estar alucinado, mas eu não sabia. O caldo que me davam todas as tardes como alimento não supria minhas necessidades. Somente as folhas que me obrigavam a escrever seriam minha paz.

Esforcei-me em vão. Entreguei minha alma ao diabo sem perceber o peso da negociação. Tenho mãos doloridas e sujas de tanto escrever, mas sem alma dentro delas. Não há mais o que contar. Dentro de mim há uma tempestade. Lá fora há sol e morro de frio.

Novembro de 2009

2 comentários:

Ba. disse...

parece um texto de despedida.

muito bom, ahhh você é incrível mesmo.

disse...

Me identifiquei com esse texto... Que estranho.