segunda-feira, 11 de março de 2013

Café Instantâneo



Toda quinta – feira, e em nenhum outro dia, venho tomar café da manhã nessa padaria. Sou um dos primeiros clientes do dia, de modo que já estou instalado em minha mesa preferida quando a vejo atravessar a rua rumo ao local. Normalmente, a espero para pedir um café. Como se em silêncio, e em seus lugares, tomássemos em companhia mútua.

Usa cabelos presos de uma maneira que pequenos fios caiam na frente quanto atrás dos ombros. Sua cor preferida é azul, sempre a vejo com adornos ou roupas dessa cor. Ou pode ser um sistema, utilizar azul todas as quintas-feira. Recomendação do horóscopo, da televisão, de quem quer que seja.

Senta-se de maneira perfeita, sem arquear as costas. Na cadeira da frente deixa a bolsa. Deduzo que não espera ninguém. Quando tira o casado revela uma roupa sem mangas que deixa o braço nú. Enquanto se movimenta para abrir o jornal vejo o movimento de seus músculos. É magra, mais baixa que minha estatura de um metro e setenta e cinco. Não consigo não ter simpatia por essa mulher.

Se por ventura nossos olhos cruzam, trocamos cordialidades. Digo Olá e recebo seu sorriso de voltar. Somos cúmplices nesse café da manhã. Há semanas que observo em seu gesto uma angústia maior que a felicidade. Quando chega o café expresso voltamos a complentar a si mesmos. Ainda que meu pensamento permaneça no sorriso. Deixaria minha vida naquelas mãos em um suspiro.

Está com sapatilhas vermelhas, jeans bem acentuado ao corpo e blusa azul. Ela olha para mim e ergo minha xícara desejando saúde. Tenho a impressão que ela me lembra alguém que já esqueci. Por isso a sensação de empatia. A moça do café me lembra de uma mensagem dentro de uma garrafa que precisa ser decifrada.

Enquanto escrevo estas anotações, ela me observa. Os olhos parecem pares dos meus. Ela é uma figura que, apenas por algumas horas, deixa meu norte mais para leste. Me apaixono por ela todas as quintas pela manhã e, a tarde, o mundo encontra novamente o equilíbrio. 

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