terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Bebidas Amargas, Noites Negras (Uma Introdução)


Não importa quem somos, mas sempre desejamos ter um espaço só nosso. Nem que seja uma pequena caixa com chave onde podemos guardar os itens que são mais preciosos.

Dizem que um escritor só ganha essa alcunha, de fato, quando é publicado por alguma editora, em algum lugar. Hoje, depois de seis anos me dedicando a prosa, se ainda não sou um, tenho certeza - daquelas sensações que vem bem no estômago - de que meu desejo é ser um. Publicar meus contos, ser lido por desconhecidos, elogiado e criticado.

Minha primeira prosa beirava o ridículo do riso, as últimas parecem ter uma cadência gostosa de se ler. A experiência e a prática contam muito depois de anos.

Durante esses tais anos, tive muitos espaços para publicar meus textos. Ao lado de dois amigos, criei meu primeiro blog coletivo. Depois com mais outros três, outro desses literários coletivos e, com um desses, mais um projeto dessa vez em duo.

Pela ausência de inspiração, o outro blog ainda vive, mas está parado. Minha maré de composições tem me dado força para retomá-lo e, em breve, ele deve voltar a ativa, enquanto o outro da dupla viaja pela Europa. Enquanto isso, fui convidado por um outro amigo, a realizar um projeto novo, em cuja idéia consiste criar uma personagem fixo em diversos textos, dando um desafio a mais para a arte da escrita. Tentando nos dar um esforço para aprendermos ainda mais sobre esse ofício.

Rara as vezes tive um espaço que fosse só meu, minha caixa com chave. Tive um que até hoje tenho muito apreço, mas os textos velhos chocam-se com os textos novos, com outro estilo e parecem não se casar. Assim surgiu essa espaço mais sombrio, Negro e Amargo Blues. Um título extraído de um romance policial que exemplifica de maneira curiosa o tipo de literatura que faço agora.

Uma composição repleta de amargura, decadencia, dolorida como um blues. Que tem seus espaços belos mas que sempre se quebra com a dura realidade e o chão áspero em que tropeço.

Antigamente, eu tinha leitores. Mas eles foram tornando-se amigos, muitos íntimos. E amigos não ligam para o seu trabalho. Quando rompe-se o enigma entre autor e leitor, perde-se a importância de acompanhar sua evolução. Ganhei amigos, sim, mas perdi meu público.

Esse espaço não tem a intenção de ser um lugar amplo para muitos. Mas sim para aqueles poucos que ainda insistem que eu devo registrar minhas narrativas em um espaço contínuo. Sobre isso, fica meu agradecimento a uma recém conhecida, de poucos meses atrás, que tem sido de muita graça, não só em nossos diálogos, quanto pela insistência de que devo ter um espaço só meu.

Mesmo que ela não veja qualidades nas poesias que faz, como devorador de livros há tempos e um escritor com um pouco de aprendizado, a vejo como um pequeno diamante bruto, que precisa, apenas, ser lapidado. Assim, deixo meus agradecimentos a Barbara Prieto que de tanta insistencia me inspirou a divulgar esse espaço, que, até então, criei só para mim, e que também já leu algumas das prosas que serão expostas aqui.

Como dito, a idéia não é juntar multidões. Mas sim, bons leitores que sempre retornam para acompanhar as ficções, e, com sorte, tecer comentários após a leitura.

Cabe também deixar meus agradecimentos a uma flor que encontrei no asfalto, em, como dito por um amigo, uma das ruas mais feias da cidade de Araraquara: Karina Audi. Quanto a ela, fica meu desejo que possa acompanhar também minhas narrativas pelo simples prazer que meus textos podem despertar e um agradecimento por, desde já, ser tão especial.

O mundo de minhas narrativas não é tão belo quanto foi um dia. É podre e obscuro quanto o mundo que vemos lá fora. Um amigo muito próximo, Vinício dos Santos, definiu, certa vez, meu estilo como uma retórica da agressão. E sua afirmação não poderia estar mais correta.

A maneira como realizo um texto é pegando boa parte daquilo que me incomoda e brotando o mesmo sentimento no leitor. Seja pela violência das palavras ou por ato extremos, desses que só personagens literários tem a força de realizar.

Em toda minha produção, são os textos mais maduros que produzi. E que continuarão sendo produzidos a medida que surge a inspiração, a transpiração e meus olhos atentos sobre o mundo.

A arte é composta disso, uma doce imitação de nossos pesadelos mais profundos. De tristezas negras e amargas, mas travestidas de uma poesia dolorosa como os acordes de um blues.

Por fim, fica o pedido sincero para, caso tenha apreço por essas escrituras, que indique aos amigos e conhecidos. Quem sabe juntamos aqui um pequeno grupo de leitores, poetas e prosadores cujo prazer é, justamente, a literatura. Essa arte tão abstratada e ao mesmo tempo tão nítida.

Muito obrigado, e boa leitura,

Thiago Augusto Corrêa

3 comentários:

Ba. disse...

Eu insisti mesmo, e obrigada por me ver assim.
você já foi lapidado a muito tempo, só precisa mesmo mostrar tudo isso pra todo mundo, não só os "escolhidos".

Eu adoro seus textos, como sabe, e vou continuar fazendo parte do seu público.
Bom espaço, só seu :*

Karina disse...

Muito obrigada pelas linhas dedicadas a mim... não tem noção do quanto fico feliz em ser especial a você a esse ponto, pois és muito mais a mim.

e eu sei que você vai arrebentar :******

Carol Rodrigues disse...

Gostei muito!
Tbm.. indicação da Rachel, TINHA q ser coisa boa =)

Sorte no novo espaço
Um 2010 de bons frutos pra ti ;-)