quarta-feira, 10 de abril de 2013

Palavras de Minhas Palavras de Adeus



Escritores tem um fetiche não declarado por cadernos, cadernetas ou qualquer outro conjunto de papéis que pode ser rabiscado. Uma fantasia literária que surge da brancura de um papel que será preenchido com possíveis idéias.

Tenho cadernos de todos os tipos em casa e, sempre que vou a papelaria, me vejo admirando-os. Mesmo que tente organiza-los, na falta de tê-los a mão o tempo todo, qualquer papel é útil para uma anotação.

Quando desejo jogar um antigo caderno escolar fora, tenho de folhea-lo com cuidado para saber se por acaso não deixei um texto, um poema, uma frase que achei interessante anotar e que seria material para contos natimortos.

Guardo rascunhos rasgados de cadernos diversos, de maneira desordenada, na esperança de um dia encontrar uma ideia genial ou um bom texto perdido.

Tenho um desses de uma matéria, com cem páginas, e uma paisagem na capa e a frase No Stress. Contas, listas de mercado, anotações gerais e idéias. Nele reencontrei uma canção que há muito tempo não me lembrava. E utilizo a palavra canção com precisão, pois, ela foi feita dessa maneira. Com versos mais leves para ser cantados, com uma urgência melódica, sem perder a profundidade mas, ainda assim, cadenciada com rimas.

A temporalidade me deixa distante de sua criação mas recordo-me da noite depressiva e triste pela discussão com alguns amigos, motivo que me fez rabiscar palavras em meados de dois mil e seis ou sete.

Empunhando o violão fiz alguns acordes e comecei a cantar a esmo. Mas escrever para amigos não é tão pungente quanto um amor, me pareceu. Projetei minha dor em outra história criada a partir do lápis. Sim, chega a hora de avisar que estou indo embora antes do fim.

Essa primeira frase me comoveu ao ponto de me fazer chorar. Anotei a base que tinha composto, em Sol, Lá Menor e Fá, e cantei-a milhares de vezes até que outros versos surgissem.

Lembro-me que tentei ser tão pungente e poético quanto Nando Reis, um compositor que admiro. De modo que, duas horas depois, eu sentia-me cansado, triste e com a sensação de ter finalizado uma canção admirável. Poderia ser meu gigante egocentrismo falando por mim, mas o produto final tinha me deixado satisfeito, fazendo valer o sentimento que emulei por duas horas e que me deixou mais depressivo do que quando comecei. 

Tenho poucas canções. Pelo gosto de tocar violão, as vezes faço letras em cima de melodias que invento por diversão ou desafio. Assim como já musiquei poemas de amigos. Dentre esse pequeno cancioneiro tímido a força desta canção carrega uma verdade tão profunda que não sei como saiu de mim. 

E era essa a história que queria lhes contar antes de apresentá-la, ainda que não integralmente pela falta da melodia.


Minhas Palavras de Adeus

Sim,. chega a hora de lhe avisar
que estou indo embora antes do fim.
Assim desapareço de repente
enquanto você, sutilmente, saia de meu coração.

Não, não vai haver perdão nem volta.
Estou agora trancando a porta
e lá fora o sol vai me iluminar.

Me dar a felicidade que se foi um dia.
Seu sorriso que era minha alegria
agora é triste como sombra que nunca vai passar.

Sei quanto bonita foi a nossa história.
Trago o mais belo dentro da memória
mas porque você teve de me deixar assim?

Ô. Diz para mim?
Diz.

Calma. Sei que os desejos mais belos da alma
devem estar além dessa construção
que hoje se arruinou.

Foi você quem me guiou na sua estrada.
E refazendo a sua jornada 
deixou a mim e nossas malas para trás.

Parto. Vestido um desejo quase morto.
Lembrando dos seus olhos que me diziam
que nunca fui-lhe um porto.

Nossa foto antiga e desbotada
ilustra um amor da estação passada
e a sensação de que ainda quero mais.

Guarde seus nobres planos com seus triste enganos
que daqui há muitos anos você vai lembrar
de mim quando chorar.

Ah, minhas palavras de despedida
são o meio dessa partida
onde vou embora, embora não queira
lhe dizer adeus
e te abandonar.

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